O mal de Alzheimer, uma doença sem
cura conhecida, foi vista em um modelo tridimensional por cientistas americanos
em laboratório. O estudo, já considerado revolucionário, foi possível com a
mistura de um gel com neurônios que vêm de células tronco embrionárias, carregadas
com mutações normalmente associadas à doença.
Desta forma, uma equipe liderada por
pesquisadores da Universidade de Harvard acompanhou a formação de estruturas
características do Alzheimer, as placas senis e emaranhados neurofibrilares. Os
resultados da pesquisa foram descritos anteontem na versão on-line da revista
“Nature”.
Os pesquisadores usaram, com sucesso,
inibidores para bloquear a formação das estruturas típicas no modelo da doença.
Agora, a meta é testar como 1,2 mil medicamentos já disponíveis no mercado
agiriam naquela estrutura que reproduz o cérebro com Alzheimer. É possível que
alguns tratem ou interrompam a progressão da condição neurodegenerativa.
— É plausível imaginar que algumas
dessas drogas, que estão no mercado para combater outras doenças, tenham um
efeito benéfico também no combate ao Alzheimer — descreve Stevens Rehen,
neurocientista da UFRJ e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, que não
participou da pesquisa. — Se isso ocorrer, um novo medicamento contra a doença
pode ser descoberto.
Testes na estrutura 3D montada em
Harvard podem rastrear o desempenho dos remédios entre seis e oito semanas. Em
camundongos, animais normalmente usados em pesquisas científicas, o mesmo
processo duraria cerca de um ano e seria até dez vezes mais caro.
Dois fatores contribuem para o
processo neurodegenerativo do Alzheimer — o acúmulo de placas da proteína
beta-amiloide e um emaranhado formado por outra proteína, a Tau, que intoxica as
células nervosas saudáveis. Ainda não se sabia, porém, qual destes fenômenos
ocorria primeiro.
Os pesquisadores descobriram, com seu
modelo, que a beta-amiloide “inaugura” a degeneração. A partir de agora, os
cientistas podem analisar separadamente os processos que ligam a ação dessas
duas proteínas.
O modelo de pesquisa da “doença em uma
placa” é uma forma emergente de compreender enfermidades que não podem ser
analisadas com precisão em animais. A técnica já foi usada com sucesso para
entender o desencadeamento da esclerose lateral amiotrófica (ELA).
Apesar de sua utilidade, o sistema
criado na placa não conta com componentes cruciais, como as células do sistema
imunológico, que exercem um papel importante quando começa a devastação
provocada pelo Alzheimer. De qualquer forma, o mérito da nova técnica de
pesquisa é sua forma rápida de conduzir novos testes.
Autor principal da pesquisa, Doo Yeon
Kim, professor de Neurologia da Universidade de Harvard, reconhece que sua
equipe criou apenas uma “fatia” de cérebro, e não uma estrutura completa. No
entanto, a estrutura poderá ser útil para pesquisar outras enfermidades.
— Queremos desenvolver modelos mais
complexos, que considerem os impactos no sistema imunológico, mas sabemos que
nossa tecnologia tridimensional já é útil para analisarmos outras doenças
neurodegenerativas.
FONTE: CFF (Conselho Federal de Farmácia)
DATA: 14/10/2014
REFERÊNCIA
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