O uso
prolongado e indiscriminado de ansiolíticos e tranquilizantes pode aumentar o
risco de o idoso desenvolver a doença de Alzheimer, mostra estudo publicado no
"British Medical Journal".
Utilizados
para tratar sintomas como ansiedade e insônia, os benzodiazepínicos (como
Rivotril, Frontal e Lexotam) foram associados a um risco até 51% maior de
desenvolvimento da demência.
A venda
dessa classe de calmantes tem aumentado no Brasil, na contramão do que acontece
em países como Inglaterra e Alemanha, onde o comércio tem caído.
A
pesquisa foi feita por um grupo de cientistas canadenses e franceses usando
dados do sistema de saúde de Québec (Canadá).
Foram
comparados 1.796 casos de alzheimer em pessoas acima de 66 anos com 7.184
idosos saudáveis (da mesma faixa etária) por um período de seis anos antes do
diagnóstico da doença.
Os
resultados revelaram que quanto maior o tempo de uso do remédio, maior foi o
risco da demência. Acima de 180 dias, por exemplo, houve o dobro de chances.
Na última
década, várias pesquisas apontaram para essa associação, mas havia dúvidas se
os medicamentos já não eram prescritos a pessoas com sinais da doença.
Segundo
editorial do "BMJ", o atual estudo traz dados mais convincentes
porque, entre outras coisas, usou um grupo-controle e ajustou as variáveis,
como sintomas de ansiedade e agitação.
Ainda
assim, não é possível estabelecer uma relação de causa e efeito. "Os
achados reforçam antigas suspeitas, mas é difícil provar com certeza absoluta
que a medicação cause a neurodegeneração", diz Sophie Billioti de Gage,
autora principal.
Ela
ressalta, no entanto, que os médicos precisam pesar muito bem os benefícios e
riscos ao indicar a medicação a um paciente idoso.
Segundo o
psiquiatra Mário Eduardo Costa Pereira, professor da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas), há idosos em que a medicação se tornou "companheira
de vida". "São usadas por dez, 20 anos. Devem ser evitadas, mas,
quando indispensáveis, que seja por curto período 30 dias, no máximo e em
baixas doses."
O
geriatra Rômulo Meira, professor da Universidade Federal da Bahia, afirma que
muitos pacientes deprimidos estão sendo tratados, erroneamente, com os
benzodiazepínicos. "São indicados de forma abusiva e intempestiva. É uma
panaceia."
Além do
risco de alzheimer, há outras razões mais robustas para que idosos evitem os
benzodiazepínicos. Em 2012, a Sociedade Americana de Geriatria os colocou na
lista de substâncias inapropriadas para tratar sintomas de insônia e agitação.
"Entre
os efeitos colaterais estão falhas de memória, confusão mental e instabilidade
postural. Isso pode levar a quedas e fraturas", explica Meira, também
membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
Segundo
ele, é muito comum os idosos se queixarem de insônia, quando, na verdade, têm
dificuldade de dormir à noite porque costumam cochilar durante o dia. "Às
vezes, uma simples higiene do sono já resolve."
OUTRO
LADO
A Roche,
fabricante do Rivotril, que lidera a venda entre os benzodiazepínicos, informou
que não comentaria o estudo porque ele trata da classe terapêutica, não do
Rivotril em específico.
Já a
Pfizer, fabricante do Frontal, reforça que pacientes idosos são mais sensíveis
aos benzodiazepínicos e que, nesses casos, é recomendado seguir a dose eficaz
mais baixa pelo menor período de tempo, conforme consta na bula do medicamento.
FONTE: CFF (CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA)
Data: 02/10/2014
REFERÊNCIA
http://www.cff.org.br/noticia.php?id=2295&titulo=Uso+de+tranquilizante+pode+elevar+risco+de+alzheimer