Acabar
com o famigerado medo de injeção e, de quebra, aumentar a eficiência na
aplicação das vacinas através de um sistema adesivo onde o próprio paciente
pode administrar os remédios. O cenário, inimaginável há alguns anos, pode se
tornar realidade até 2017 graças a um estudo desenvolvido por pesquisadores dos
Estados Unidos.
O
trabalho foi desenvolvido no Instituto de Tecnologia da Georgia, em Atlanta,
nos Estados Unidos, e consiste em um adesivo capaz de abrigar 100 micro agulhas
e que podem ser aplicadas nos pacientes de forma praticamente indolor. A
técnica também zera os riscos de transmissão de doenças através de agulhas
contaminadas.
Segundo
o pesquisador norte-americano Mark Prausnitz, que coordenou os trabalhos, o
sistema é tão simples que permite que os próprios pacientes façam a aplicação
em suas casas, sem ajuda de médicos. "Com isso, os centros de saúde podem
cortar despesas em equipamentos de armazenamento dos medicamentos. O paciente,
por sua vez, ganha tempo e não precisa sair de casa para tomar as vacinas",
informou.
Segundo
os pesquisadores, o curso para a produção dos adesivos não é maior que o custo
atual para a produção da vacina convencional. "Para rubéola, por exemplo,
cada adesivo custa perto de US$ 1,30 (cerca de R$ 3,90)", ressalta o
pesquisador. O estudo pesquisou ainda a criação de vacinas contra sarampo,
gripe, tuberculose e outras moléstias cujas vacinas são administradas, hoje,
através de injeções.
Ele
ressaltou, ainda, que a eficácia do método é no mínimo igual à observada com as
agulhas tradicionais. "Mostramos que o emplastro com agulhas microscópicas
pode vacinar no mínimo com a mesma eficiência e provavelmente melhor do que a
tradicional agulha", disse.
A
possibilidade de fugir das injeções foi o que mais chamou a atenção da
professora Cristiane Aparecida Salvador, 37. Ela, que evita ao máximo as
aplicações, conta que o desconforto que sente com as picadas é tão grande que
pede, inclusive, para familiares levarem o filho, de dois meses, para as doses
de vacinação.
"Não
gosto de agulha, tenho um medo danado. Não posso nem ver. Pra mim, seria muito
melhor essa aplicação por adesivos. Espero que chegue logo ao mercado",
comentou. Já o assistente social Guilherme Moraes, 30, ficou entusiasmado
com a ideia. "Não sei quando começou, mas começo a passar mal só de pensar
em tomar vacina. Já deixei de tomar algumas e também não tiro sangue. Só
enfrento a picada quando é inevitável. Mas já fui pior, hoje ainda consigo
encarar. Antes, dava show", conta ele, que ficou interessado em saber
quando os adesivos vão estar disponíveis no Brasil. "Que maravilha, tomara
que chegue logo", disse.
Como funciona
O
adesivo é composto por agulhas microscópicas feitas de plástico biodegradável.
Depois de ser utilizado, não deixa marcas na pele. Dentro dessas agulhas, que
funcionam como uma espécie de cápsula, ficam microdoses da vacina.
Depois
da aplicação, essas agulhas penetram na pele e começam a se dissolver,liberando
a vacina para o paciente. Em 20 minutos, a vacina já está toda no organismo e o
adesivo pode ser retirado e jogado fora.
Ainda
segunda Prausnitz, os adesivos não demandam treinamento para serem aplicados
nem precisam de condições especiais de armazenamento. "O processo é mais
amigável para as pessoas com medo de injeções, além de ser até 20 vezes mais
confortável, de acordo com testes realizados em grupos de pacientes. Uma
vantagem adicional é que a injeção é fácil e pode ser aplicada, em casa,
sem fazer que as pessoas tenham de ir ao médico ou mesmo parar as tarefas
cotidianas", afirma.
Para
o gestor de saúde pública Eder Waki, a iniciativa pode significar economia de
recursos aos cofres públicos. "O Brasil realiza uma série de campanhas de
vacinação que, nesse sistema, poderiam ser feitas pelos próprios pacientes, sem
a necessidade dos profissionais da saúde. Isso certamente traria
economia", disse.
Testes
Testes
A
nova forma de vacinação recebe financiamento do CDC (sigla em inglês para
Centro de Controle de Doenças), entidade que regula o mercado de medicamentos
nos Estados Unidos, e da fundação Bill and Melinda Gates. As pesquisas em
animais já se mostraram efetivas e os testes em humanos devem começar até 2017.
Em
uma pesquisa realizada em Atlanta com cem pessoas e publicada na revista
Vaccine, foi constatado que os pacientes são capazes de fazer a aplicação da vacina
contra a gripe com alto índice de sucesso, o que abre margem para a
auto-aplicação.
O
estudo também sugeriu que a utilização da vacina no adesivo pode aumentar a
taxa de vacinação. No estudo, 46% afirmaram que haviam tomado a vacina
convencional contra a gripe anteriormente, sendo a aplicação feita por agulhas
tradicionais, em centros médicos, índice que passou a 65% depois que os
pacientes receberam em casa a vacina e fizeram a auto-aplicação. "Nosso
sonho é que ver vacinas disponíveis em lojas ou enviadas pelo correio para as
pessoas se auto-administrarem", disse Prausnitz. "As pessoas podem
levá-las para casa e aplicá-las em toda a família. Queremos chegar a mais
pessoas vacinadas e aliviar os profissionais de saúde do fardo de dar esses milhões
de vacinas", concluiu.
Fonte:
CRF-PA (Conselho Regional de Farmácia-Pará)
DATA:
12/05/2015
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